quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Um maior abandonado

Era mais um fim de tarde daqueles melancólicos e depressivos. O sol se punha mais uma vez com o seu
incansável brilho e sentado em um banco de madeira na pequena pracinha localizada no interior do
Asilo São Bernardo, estava triste e pensativo o senhor João, setenta e cinco anos; com toda a sua
cabeleira embranquecida pelo tempo.
O velho senhor, acometido por uma forte crise se autoquestionava por que de tamanho descaso. Logo ele,
que se julgava um excelente pai, jamais imaginara chegar à velhice abandonado em um asilo.
Aos vinte anos, João se casara com D. Letícia, que tinha a mesma idade, tiveram quatro filhos homens.
Era uma família muito feliz, mantinham o hábito de realizarem as refeições juntos. João fazia questão de
estarem sempre reunidos, buscando uma perfeita união familiar.
Os anos se passaram, todos os filhos casaram e naquela enorme casa que outrora abrigara uma grande família,
restou apenas o casal.
D. Letícia contava com seus setenta anos quando fora acometida por uma grave doença degenerativa que
em poucos meses veio a lhe ceifar a vida. Após a morte da esposa, o senhor João ainda abatido pelo fato,
viu-se diante da solidão, abrigado naquele casarão, onde a única companhia era o eco das palavras por ele
proferida, para fugir da solidão resolveu morar com o filho mais velho.
Foi tudo muito difícil para ele, fora obrigado a mudar seus hábitos e alterar a sua rotina diária, além de
enfrentar a rejeição de sua nora Gisele.
Gisele gostava de ter uma vida social agitada e não aceitava o fato de ter que ficar em casa para cuidar do
sogro. Certo dia, quando Pedro chegara do trabalho, encontrou a sua esposa em total "estresse" que lhe fez uma
dura pressão:
- Ou você coloca esse velho em um asilo ou eu vou embora.
A situação estava insustentável, Pedro reuniu-se com os outros irmãos, mas ninguém aceitou ficar com o pobre
pai, alegavam que não podiam desfazer dos seus compromissos e não tinham paciência para atender as necessidades
de uma pessoa idosa. Decidiram, então colocá-lo em um asilo.
Novamente, João estava diante de outro problema, teria que adaptar-se a outros hábitos e costumes. Tinha
hora pra tudo, era tudo regulado, parecia uma prisão e realmente era, naquele ambiente triste, onde praticamente
todos os velhinhos estavam esquecidos pelos parentes, restavam lhes apenas a companhia da solidão.
E naquele pequeno banco, João continuava a recordar os momentos felizes que vivera junto à sua esposa e seus
filhos. O coração não suportava tamanho sofrimento e ali mesmo no banco da pracinha encerrava a sua trajetória
de vida. Uma dor muito forte apertou-lhe o coração e ele não resistiu.

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