A leitura é fundamental em qualquer série do ensino, desde o básico até o nível superior, ou ainda, até o momento em que respiramos, para Marisa Lajolo, ler não é decifrar como em jogo de adivinhações e sim ser capaz de atribuir ao texto um significado.
Um leitor competente sabe selecionar, dentre os textos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a suas necessidades, conseguindo estabelecer as estratégias adequadas para abordar tais textos. O leitor competente é capaz de ler as entrelinhas, identificando, a partir do que está escrito, elementos implícitos, estabelecendo relações entre o texto e seus conhecimentos prévios ou entre o texto e outros textos já lidos. (PCN, 1998, p.70).
O problema da falta de leitura está refletido nas avaliações recentes do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e do Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento do Estado de São Paulo) em que fica clara a deficiência dos nossos discentes, reafirmando aí o conceito de interferência que há nas interpretações dos textos pela ausência do hábito da leitura. Esse fato é comum no Brasil, de acordo com Carlos Henrique Araújo, diretor de avaliação da educação básica do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), “Interpretar um texto é base para entender outras matérias. Às vezes, o aluno não sabe História porque não sabe ler e como fator comprovado é a falta do hábito de leitura, não apenas entre os alunos, mas também entre os pais e mesmo entre os professores”.
A proposta de leitura, do uso do texto na sala de aula encabeçada por Geraldi é importante e de suma importância no desenvolvimento do hábito de leitura. “É preferível até que um aluno diga ao professor que terminou de ler um romance, embora não o tenha lido, do que o professor ‘cobrar’ tal leitura” (GERALDI, 2006, p. 60). Fica claro que, em primeiro momento, não se deve cobrar ou fazer uma atividade avaliativa sobre determinado livro recomendado para o discente. É importantíssimo fazer com que o aluno se apaixone, se encante pelo livro e esse encanto o leve a querer descobrir os mistérios “escondidos” em cada página outrora desprezada e ignorada.
A maioria das escolas públicas dispõe de rico acervo bibliográfico, porque nessa parte o investimento existe e é quase que bem maciço, embora ainda falte profissional capacitado para cuidar de todos esses títulos e dar um rumo adequado a eles. Esses livros empilhados e não utilizados podem estar ofuscando o surgimento de muitos leitores em um país onde dados comprovam que a leitura ainda é muito pouca, constatada inclusive essa deficiência entre os alunos de graduação, muitos viraram escravos e viciados no famoso copiar e colar.
Para tentar reverter essa situação caótica, o professor poderá utilizar dessas obras disponibilizadas nas unidades escolares, distribuí-las aos seus alunos, mas antes apresentar, ou melhor, encenar um breve resumo do livro para a turma. “O que não se deve fazer é tornar o ato de ler um martírio para o aluno – que ao final da leitura terá que preencher fichas, roteiros ou coisas parecidas. Nada disso me parece necessário” (GERALDI, 2006, p. 61). Certamente surgirão muitos interessados em ler o livro.
Só dizer que o livro é bom, que representa o início de uma escola literária, que ganhou vários prêmios ou que possui uma boa história não basta, é necessário mostrar efetivamente aos educandos por que determinada obra é um ícone na literatura e merece ser lida. Quando o aluno percebe que o professor é um apaixonado por livros, consegue dizer frases da obra e levando-os a viajar através da história, o interesse passa ser muito maior.
Uma idéia interessante é levar na sala de aula jornais para leitura e em seguida solicitar recortes de noticias atuais e em cima da reportagem fazer uma produção de texto como a elaboração de poesias. “O professor deve organizar momentos de leitura livre em que também ele próprio leia, criando um circuito de leitura em que se fala sobre o que se leu, trocam sugestões, aprende-se com a experiência do outro” (PCN, 1998, p.71).
Como método de divulgação, poderá enviar os trabalhos e/ou atividades produzidas pelos discentes aos jornais regionais ou até mesmo em “blogs” (diários digitais). É preciso divulgar os textos dos nossos alunos “afinal, qual a graça em escrever um texto que não será lido por ninguém ou que será lido apenas por uma pessoa (que por sinal corrigirá o texto e dará nota para ele?) Assim, para fugir a tal aspecto, proponho aos textos produzidos em aula outro destino”.( GERALDI, 2006, p. 65)
A divulgação dos textos dos educandos nos meios de comunicação em massa traz uma grande valorização ao aluno, fazendo-o sentir importante e a criar mais e mais textos através da leitura de periódicos. Tais resultados são comprovados em muitas escolas, professores buscam divulgar de forma maciça os resultados apresentados em sala, é uma forma de também divulgar o trabalho que o docente desenvolve e mostrar que realmente a escola está desenvolvendo a capacidade de produção e interpretação dos discentes.
O que não falta são atividades ligadas diretamente ao desenvolvimento da prática de leitura. Em datas especiais como o dia das mães e dia dos pais, o professor pode desenvolver com os alunos a produção de cartas, “lembro perfeitamente que meus pais reclamavam que eu não sabia escrever uma carta para algum familiar distante, e, no entanto, estava no colégio” (GERALDI, 2006, p. 67). Os gastos serão mínimos, pois existe no Brasil a “Carta Social”, onde pode ser enviada para qualquer pessoa civil, correspondência de até dez gramas pelo preço de R$ 0,01, grandes mesmos serão os resultados. Pais recebendo correspondências de seus filhos em dias tão especiais. “Tais cartas poderão ser escritas em sala de aula, mas o professor não deve corrigi-las (afinal, há um preceito constitucional que chamaria a isso de violação de correspondência)” (GERALDI, 2006, p.68), os alunos precisam ficar “livres” para expressar seus sentimentos sem a interferência do professor que deve apenas orientar na organização das idéias e quando solicitado esclarecer dúvidas quanto a escrita de algumas palavras, dá até para trabalhar algumas regras básicas se surgir palavras com dúvidas de “g” ou “j”, “x”, “cs”, “s”, “z”, concordância verbal, uma infinidade de conteúdo a ser trabalhado, não só alunos do sexto ano (quinta série) gostam de escrever aos pais, os do sétimo (sexta), oitavo (sétima) e nono ano (oitava série) também tem simpatia na elaboração de cartas aos pais.
A leitura deve ser uma atividade constante na vida de qualquer estudante, precisamos entender que um leitor só se forma através de uma prática contínua de leitura, organizada em torno da diversidade de gêneros textuais que circulam socialmente.
A partir dessa hipótese de que a leitura é uma prática social, entendemos o leitor não como um mero decodificador, mas como alguém que assume um papel atuante na busca de significações e completa o texto com seus conhecimentos. Por isso, uma mesma pessoa pode atribuir diferentes significados a um mesmo texto, se este for lido em diferentes momentos da vida.
Um país de leitores é um país de vencedores, com mentes abertas e cidadãos capazes, fortalecidos e engajados nas lutas pelos seus direitos.